Tuesday, April 28, 2009

Bastava ela enxergá – lo pra sentir um fogo queimando em seu corpo. Quando os olhares se cruzavam na multidão, as pernas enfraqueciam, a respiração ofegava. Todas as noites ela sonhava com o guri misterioso, eles namorando, eles casando, e ele morrendo, bem velinho, ao seu lado, e sempre neste momento ela acordava apavorada, com um aperto no coração.
Como era possível sentir e pensar tanto em alguém que nunca conhecera? Que observava pelos últimos 3 anos e meio e nunca tivera coragem de se aproximar? Como poderia ser, que cada fibra em seu corpo desejavam o beijo, o toque, a companhia eterna, a ponto de tornar – se viciada naquela pessoa um tanto quanto desconhecida? O que acontecia ali, que era capaz de fazê – La perder a razão e o foco?
Quando o menino não aparecia na faculdade, era como um dia morto. Ela não falava com ninguém, não sorria, permanecia atônita. E quando ele aparecia, ela ficava radiante como os raios que irradiam no horizonte, quando o sol nasce, toda manhã. A presença dele no mesmo ambiente a fazia pensar em passar a mão pelos cabelos que pareciam tão sedosos, encostar de leve seus lábios nos lábios rosados dele, abraçá – lo tão forte, como se o mundo fosse acabar naquele momento. Mas nunca os pensamentos viravam ações.
As pessoas já começavam a notar, tarde demais para conseguirem impedir a obsessão, cedo demais para consolá – La quando o pior viesse a acontecer. E todos em volta dela estavam de mãos atadas. Ou quase.
Um dia, ou melhor, uma noite, os amigos da menina obcecada formaram um complô, decididos a terminarem com o chove não molha de tanto tempo. E conseguiram. O guri misterioso marchou em direção à menina, apresentou – se e abriu um sorriso. Que lindo sorriso, pensou a menina enquanto tentava situar – se no que estava acontecendo. Após um pouco de conversa praticamente unilateral, porque somente ele falava, enquanto ela apenas sorria envergonhada, o inesperado aconteceu! A menina teve seu corpo puxado para perto do dele, e na sequência, foi beijada com vontade, com paixão.
Após o primeiro beijo ele confessou que também a observava, e que ficava encantado com seus olhos brilhantes, seus cabelos lisos, e seu sorriso envergonhado. E admitiu querer beijá – La por muito tempo, mas lhe faltara coragem. E assim como o conto de fadas poderia ter acabado, com os dois felizes para sempre, ele acabou de um modo inesperado. O beijo foi sem graça, o cabelo dele era oleoso, e ele cheirava mal.
O conto de fadas acabou como pesadelo. Porque de tão envergonhada a ponto de não conseguir se declarar, ela também não conseguia rejeitar, levando a inúmeros beijos sem graça e uma vontade absurda de sair correndo.
Depois daquela noite, a menina aprendeu que quando se espera demais, quando se sonha demais, o resultado nunca é como o esperado, e as vezes, é melhor que os sonhos permaneçam apenas como sonhos, que nos movem e nos dominam. Porque uma das maiores qualidades do ser humano é a capacidade de sonhar.

Monday, April 06, 2009

Aquele olhar penetra a minha pele, me faz sentir como se estivesse nua, livre de tudo que me protege do mundo exterior. É um olhar que ultrapassa minha armadura de ferro, me faz perder o chão e impede o meu cérebro de raciocinar direito. Um olhar que enaltece a auto-estima, que me dá gás pra continuar vivendo, que me faz especial. Mas será que é mesmo isso? Será que é um olhar de alguém que me deseja, ou é simplesmente um olhar de quem observa as pessoas?