Friday, August 10, 2007

Mind DEScontrol.

Ela para e pensa: E se eu fizesse diferente? Se eu falasse mansinho, em vez de berrar, as pessoas me escutariam mais? Se ao invés de correr, eu pulasse, enxergaria melhor as coisas? Se cada vez que tivesse vontade de chorar, sorrisse, seria mais feliz? Se eu falasse realmente o que está pensando pela minha cabeça, me achariam louca?
Tantas interrogações para uma menina tão pequena. A verdade é que por trás daqueles 1,50 metros de casca forte, impenetrável e feliz da vida, se escondia o auto - descontentamento. E agora, o vento soprava para outros lados, levando consigo pedaços da casca, uma vez impenetrável, e a menina não conseguia mais esconder tudo aquilo que outrora escondera. Passou a não ficar na companhia de outras pessoas por muito tempo, afastando, gradualmente, todos seus amigos e familiares. Ela agora era praticamente sozinha, seu segundo maior medo acabara por provocar o mais temido dos medos: a solidão. Mais do que temer mostrar-se exatamente como era, a menina apavorava-se com a idéia de solidão.
As perguntas proliferaram-se. Não mais prestava atenção na rua, nos carros. Estava tão sozinha que parecia não existir mais ninguém no mundo, apenas ela e suas interrogações. Quase fora atropelada, quase pisara em merda de cachorro, enfim, ela "quase" tantas coisas que não vale a pena contar detalhadamente. E surpreendentemente, saiu ilesa de tudo, ou quase tudo, afinal, ela ainda está viva, não?

Não. Infelizmente ela não vive mais. As perguntas eram tantas, o vento soprava tão forte que o afastamento foi definitivo. Ela tentou tanto esconder seu verdadeiro "eu" que acabou sozinha. E de sozinha, ela morreu.
Não pense que ela suicidou-se, ela nunca faria isso, não tinha coragem suficiente. Mas um dia ficou doente e precisou de ajuda, mas não soube pedir. Não queria mostrar suas fraquezas.
E por isso, morreu só.

Wednesday, August 01, 2007

Ser ou não ser, eis a questão.

Um dia você olhará para o lado e perceberá que o tempo passou e o trem já partiu. E agora só resta você, solitária em uma estação qualquer, sem saber o que fazer. Não há ninguém para pedir indicações, pois todos já tomaram seus rumos, mesmo que fossem incertos. Não há folhetos indicativos, pois papel é raridade, uma vez que acabaram as reservas de árvore no mundo todo. Não tem pra quem ligar, nesse vai-e-vem de opiniões e incertezas, até os mais verdadeiros amigos não agüentaram o tranco e largaram fora, telefonistas não existem mais, tudo hoje é informatizado. Mas você não soube decidir qual modelo de palm comprar, e não pode nem entrar na internet pelo celular, já que preferiu não ter, uma vez que não foi capaz de escolher uma companhia telefônica.
O frio dá as caras, estás no auge do inverno da desesperança. A estação está tão às moscas quanto os cenários dos filmes de faroeste do Clint Eastwood, só faltam as bolas de palha arrastando-se pelo chão seguindo o movimento do vento. Deixas cair a tarraxa do brinco, e o barulho ecoa pelo salão, a ultima vez que se sentiu tão sozinha foi quando tentou entrar dentro de sua cabeça para entender o que realmente se passava, mas não foi até o final. Nunca consegues terminar as coisas que começa, temes o sucesso, a felicidade e o fracasso, preferes viver num eterno e constante contentamento. Não conquistou nada ao longo dos anos, não possui bens materiais, apenas tem a si mesma. E és oca por dentro.
De repente um barulho forte ecoa pelo lugar, olhas para o horizonte e lá está o trem, a poucos metros de você. Quando ele finalmente para, olhas para o letreiro que informa o local destinado: Vida Nova. O motorista berra para entrares e comunica que o próximo trem demorará dias para chegar, mas a hesitação entra em campo que nem o time do Brasil numa final de copa. E agora, o que fazer? Finalmente tomar uma decisão valiosa, entrar no trem e seguir para uma vida completamente nova, cheia de alegrias, ou continuar no mesmo ócio de sempre? O motorista pergunta a razão de tanta demora para embarcar e você rapidamente pensa em alguma desculpa para não admitir na frente daquele desconhecido que és incapaz de tomar decisões e viver plenamente sua vida. Arriscas dizer que temes seguir para uma vida nova e acabar mudando drasticamente o que és, e não estás preparada para isso. Não estás preparada para deixar de ser sem graça e solitária, não estás preparada para talvez amar, e sentir-se amada, ou conquistar algo e colher os louros do sucesso. Sabes que tens capacidade disso, mas não fala nada para o estranho que a olha fixamente esperando alguma outra reação.
Quando achas que o motorista finalmente cansou e resolver ir embora, para usares a desculpa de que teve oportunidade de mudar, mas não a esperaram, e jogar a culpa para outra pessoa, ele a fala: Querida, não há o que temer. Nunca deixarás de ser quem és, pois sua essência continua a mesma desde que nasceste, mas assim como um diamante bruto, também precisas ser lapidada para assim mostrar sua verdadeira beleza. Tudo é uma versão nova do antigo, diz o homem, deixando-a atônita e sem resposta. Agora não há mais desculpas,e então, numa fração de segundos consegues achar a força que há tanto tempo vivia guardada dentro de si e que a impulsiona para dentro do trem.
É o começo de uma vida nova, minha querida. Relaxa e goza.