Wednesday, August 01, 2007

Ser ou não ser, eis a questão.

Um dia você olhará para o lado e perceberá que o tempo passou e o trem já partiu. E agora só resta você, solitária em uma estação qualquer, sem saber o que fazer. Não há ninguém para pedir indicações, pois todos já tomaram seus rumos, mesmo que fossem incertos. Não há folhetos indicativos, pois papel é raridade, uma vez que acabaram as reservas de árvore no mundo todo. Não tem pra quem ligar, nesse vai-e-vem de opiniões e incertezas, até os mais verdadeiros amigos não agüentaram o tranco e largaram fora, telefonistas não existem mais, tudo hoje é informatizado. Mas você não soube decidir qual modelo de palm comprar, e não pode nem entrar na internet pelo celular, já que preferiu não ter, uma vez que não foi capaz de escolher uma companhia telefônica.
O frio dá as caras, estás no auge do inverno da desesperança. A estação está tão às moscas quanto os cenários dos filmes de faroeste do Clint Eastwood, só faltam as bolas de palha arrastando-se pelo chão seguindo o movimento do vento. Deixas cair a tarraxa do brinco, e o barulho ecoa pelo salão, a ultima vez que se sentiu tão sozinha foi quando tentou entrar dentro de sua cabeça para entender o que realmente se passava, mas não foi até o final. Nunca consegues terminar as coisas que começa, temes o sucesso, a felicidade e o fracasso, preferes viver num eterno e constante contentamento. Não conquistou nada ao longo dos anos, não possui bens materiais, apenas tem a si mesma. E és oca por dentro.
De repente um barulho forte ecoa pelo lugar, olhas para o horizonte e lá está o trem, a poucos metros de você. Quando ele finalmente para, olhas para o letreiro que informa o local destinado: Vida Nova. O motorista berra para entrares e comunica que o próximo trem demorará dias para chegar, mas a hesitação entra em campo que nem o time do Brasil numa final de copa. E agora, o que fazer? Finalmente tomar uma decisão valiosa, entrar no trem e seguir para uma vida completamente nova, cheia de alegrias, ou continuar no mesmo ócio de sempre? O motorista pergunta a razão de tanta demora para embarcar e você rapidamente pensa em alguma desculpa para não admitir na frente daquele desconhecido que és incapaz de tomar decisões e viver plenamente sua vida. Arriscas dizer que temes seguir para uma vida nova e acabar mudando drasticamente o que és, e não estás preparada para isso. Não estás preparada para deixar de ser sem graça e solitária, não estás preparada para talvez amar, e sentir-se amada, ou conquistar algo e colher os louros do sucesso. Sabes que tens capacidade disso, mas não fala nada para o estranho que a olha fixamente esperando alguma outra reação.
Quando achas que o motorista finalmente cansou e resolver ir embora, para usares a desculpa de que teve oportunidade de mudar, mas não a esperaram, e jogar a culpa para outra pessoa, ele a fala: Querida, não há o que temer. Nunca deixarás de ser quem és, pois sua essência continua a mesma desde que nasceste, mas assim como um diamante bruto, também precisas ser lapidada para assim mostrar sua verdadeira beleza. Tudo é uma versão nova do antigo, diz o homem, deixando-a atônita e sem resposta. Agora não há mais desculpas,e então, numa fração de segundos consegues achar a força que há tanto tempo vivia guardada dentro de si e que a impulsiona para dentro do trem.
É o começo de uma vida nova, minha querida. Relaxa e goza.

No comments: