Monday, October 29, 2007

GIVING UP.

Naquele momento já esgotara todas as esperanças. Resolvi voltar-me ao Deus misericordioso que tanto ouvira falar nas aulas de catequese que freqüentara há uma década. Entre pais-nosso e ave-marias pedia perdão por todos meus pecados intencionais e não intencionais. A esse ponto o desespero me consumia por dentro, cada parte do meu corpo tremia ininterruptamente.
Não entendia porque estava sendo punida. Claro que tive minha cota de pecados durante minha breve vida, claro que alguns deles são considerados pecados mortais (graves), mas numa escala de gravidade, considero-os os mais fracos dos mais fortes. Tantas pessoas que cometeram atrocidades em demasia continuam impunes de seus pecados, enquanto eu estava ali, sendo apedrejada e torturada.
Lá fora a chuva apertava compondo uma sinfonia agonizante no momento em que a água encontrava-se com o asfalto. E eu continuava a rezar, noite adentro, mas agora não pedia mais perdão e sim, uma luz, uma mensagem, um sinal, algo que mostrasse que eu sairia ilesa dessa, no entanto, nada. Pedia também, proteção, e paz de espírito. Queria tanto um momento de calmaria entre as tantas tempestades da minha vida, mas só encontrava escuridão e turbulência à minha frente.
Três horas passaram e nenhum sinal de melhora: era hora de entregar os pontos. Chega a ser uma ironia admitir a falta de força, uma vez que sempre me mostrei forte perante aos outros e até a mim. Lutar incansavelmente por algo é história da carochinha, chega um ponto em que todos cansam e não tem condições de continuar. E quanto antes eu ceder ao trágico destino que me espera, melhor será para mim. Não sentirei mais dor, não temerei a escuridão, não passarei por nenhuma outra tempestade.

Sobreviver é superestimado.

Friday, October 26, 2007

Hurt.

Eu queria que existisse “direção defensiva” pra vida. Assim como a auto – escola nos ensina a dirigir com cautela, para não causar acidentes, correndo o risco de machucar a si ou a outros, eu queria que me ensinassem a viver a vida defensivamente.
Num mundo perfeito as pessoas não se magoariam, não se decepcionariam, não sentiriam dor. Mas como estamos bem longe da perfeição, somos expostos a tais mazelas diariamente, o que além de cansativo, deixa cicatrizes internas profundas. Deveria existir um código de regras para evitarmos o convívio com pessoas duas caras que são dissimuladas o suficiente para convencer a todos de que são pessoas de bom coração. Ou então, já que a cada dia descobre-se o caminho para uma tecnologia nova e mais apurada, os brilhantes cientistas espalhados pelo imenso planeta Terra poderiam criar um tipo de sensor que alertaria às pessoas quando estão frente a uma situação decepcionante, ou alguém que pode te magoar.
Na verdade eu só queria parar de acreditar que todas as pessoas são de bem, até provarem o contrário, pode parecer que não, mas eu sou muito ingênua, pelo menos em relação ao caráter das pessoas. E eu não sou uma exceção, já magoei, causei dor, fui desonesta com quem não merecia. Mas eu sou humana porra! E como humana, tenho uma predisposição a cometer atitudes equivocadas, entretanto, nunca fiz nada proposital, como muita gente faz. Eu sou esquentada, eu brigo, berro, esperneio e faço drama demais, mas eu nunca machuquei alguém de propósito, pelo contrário, na maioria das vezes que as pessoas me magoam, eu acabo por sentir compaixão por elas, e perdoá –las, somente para agirem da mesma forma novamente. Acho que sou masoquista.
Bom, venho aqui propor um acordo: minha eterna gratidão, por uma forma de não me magoar mais. O amor ao próximo é tão necessário quanto respirar, pena que nem todo mundo reconheça isso.

Monday, October 22, 2007

six feet under.

Hoje eu queria poder te dar parabéns. Queria poder te abraçar. Setenta anos não é pra qualquer um, eu sei muito bem, e tu também sabias. Eu queria superar isso, não pra te esquecer, mas pra conseguir ficar feliz relembrando os bons momentos coletados em 14 anos de convivência e amor, em vez de sentir meu coração apertado e derramar rios de lágrimas.
Queria te desejar tudo de bom, de coração. Muita felicidade, amor, saúde... Mas como fazer isso? Como desejar algo para alguém que eu não estou vendo, ou ouvindo? Alguém que não existe mais nesse plano astral, só no meu coração e na minha cabeça? Desejar em pensamento, torcendo para que de onde tu estiveres, saibas que estou pensando em ti, já não é o bastante. Rezar para Deus, ou ir à igreja também não. Eu tentei olhando uma foto tua, mas não é a mesma coisa. Nunca mais vai ser.
E depois de seis anos eu já deveria estar acostumada, não deveria me afetar tanto, mas não consigo evitar. Queria te contar o quão difícil ta sendo viver no mundo real, cheio de crueldade, injustiças, que eu não tava acostumada. Queria conversar contigo sobre coisas importantes que eu não consigo conversar com mais ninguém. Queria poder passar o natal e meu aniversário ao teu lado.
Porque eu não posso? – me pergunto.
Porque não apareces pra mim? Eu nem sei se tu acreditavas em espíritos e vida após a morte. Eu não sei tantas coisas que eu queria saber. Como eu fui estúpida! Eu tive quatorze anos pra aproveitar, e não o fiz. Nem pude dizer que eu te amo. Nem pude dizer tchau. Eu achei que tua ia melhorar, como todas as outras tantas vezes que tu foi pro hospital, e tantas coisas aconteciam ao mesmo tempo, eu achei que não ia dar nada não te visitar. A primeira vez em quatro anos que eu não fui todo santo dia no hospital.
Desculpa por me deixar levar por outras coisas tão banais, em vez de ficar contigo. Desculpa não ter ido ao velório, nem ter ido pra Bagé jogar tuas cinzas, mas era tão difícil pra mim, e eu tinha que me manter forte, por todo mundo, que foi necessário me manter afastada. A Tia Ana me disse que um dia eu ia me arrepender de não ter ido me despedir de ti, mas eu não a levei muito a sério. Se tu encontrares ela por aí, pede perdão pela minha insolência, por não ter acreditado nela, que já tinha experiência nisso.
Eu to com saudade e não sei o que fazer. Não tenho com quem falar, não me sinto à vontade com ninguém. Não agüento mais chorar, não agüento mais lamentar. Eu quero meu porto seguro de volta, eu preciso de um, e como tu não estás disponível, eu passo meus dias procurando outro, mas não dá certo, sempre que eu penso que eu encontrei alguém, fico com medo da pessoa achar que é muita dependência, que eu sou um porre. Eu tenho que aprender a não depender dos outros, porque nem todo mundo tem o coração que tu tinhas, e que por convivência, eu tenho.
Eu só queria te olhar nos olhos, ouvir tua voz que eu nem lembro mais. Ligar-te pra falar sobre o que aconteceu no último episódio de E.R, dormir na tua casa e ouvir o cd do fantasma da ópera.
Na verdade, eu queria te dar parabéns.

Friday, October 05, 2007

You Got Mail.

Não existe filme mais sessão da tarde que Mensagem para Você. Tom Hanks é um dos donos de uma rede de livrarias, Meg Ryan é dona da "Around the Corner", uma livraria infantil que antes fora de sua mãe. Os dois são rivais, e por ironia do destino (?), começam a conversar pela internet, sob os nicknames de shopgirl e NY152, e acabam se interessando um pelo outro. No final eles ficam amigos, Tom Hanks prepara seu terreno, e, como NY152, marca um encontro no parque. Eles se vêem, ela diz que estava torcendo que fosse ele, e ao som de “Somewhere over the rainbown”, eles se beijam.
Clichês a parte, esse é um filme filhadaputamente fantástico. Ele serve como um lembrete - por mais cruel e confuso que seja o mundo que vivemos - de que o amor ainda está por aí, e podemos encontrá-lo onde e quando menos esperarmos. Mostra o quão devastador pode ser o capitalismo, e como é necessário manter o bairrismo, fugindo da impessoalidade demasiada. Por mais que seja bom um hipermercado com grande variedade de produtos, ou um Shopping Center com varias lojas, o mini-mercado com conta no livrinho e as lojas de bairro têm seu valor. Por que ser oito ou oitenta se podemos ser quarenta? O mundo é suficientemente grande para que esses dois tipos de comércio co – existam.