Hoje eu queria poder te dar parabéns. Queria poder te abraçar. Setenta anos não é pra qualquer um, eu sei muito bem, e tu também sabias. Eu queria superar isso, não pra te esquecer, mas pra conseguir ficar feliz relembrando os bons momentos coletados em 14 anos de convivência e amor, em vez de sentir meu coração apertado e derramar rios de lágrimas.
Queria te desejar tudo de bom, de coração. Muita felicidade, amor, saúde... Mas como fazer isso? Como desejar algo para alguém que eu não estou vendo, ou ouvindo? Alguém que não existe mais nesse plano astral, só no meu coração e na minha cabeça? Desejar em pensamento, torcendo para que de onde tu estiveres, saibas que estou pensando em ti, já não é o bastante. Rezar para Deus, ou ir à igreja também não. Eu tentei olhando uma foto tua, mas não é a mesma coisa. Nunca mais vai ser.
E depois de seis anos eu já deveria estar acostumada, não deveria me afetar tanto, mas não consigo evitar. Queria te contar o quão difícil ta sendo viver no mundo real, cheio de crueldade, injustiças, que eu não tava acostumada. Queria conversar contigo sobre coisas importantes que eu não consigo conversar com mais ninguém. Queria poder passar o natal e meu aniversário ao teu lado.
Porque eu não posso? – me pergunto.
Porque não apareces pra mim? Eu nem sei se tu acreditavas em espíritos e vida após a morte. Eu não sei tantas coisas que eu queria saber. Como eu fui estúpida! Eu tive quatorze anos pra aproveitar, e não o fiz. Nem pude dizer que eu te amo. Nem pude dizer tchau. Eu achei que tua ia melhorar, como todas as outras tantas vezes que tu foi pro hospital, e tantas coisas aconteciam ao mesmo tempo, eu achei que não ia dar nada não te visitar. A primeira vez em quatro anos que eu não fui todo santo dia no hospital.
Desculpa por me deixar levar por outras coisas tão banais, em vez de ficar contigo. Desculpa não ter ido ao velório, nem ter ido pra Bagé jogar tuas cinzas, mas era tão difícil pra mim, e eu tinha que me manter forte, por todo mundo, que foi necessário me manter afastada. A Tia Ana me disse que um dia eu ia me arrepender de não ter ido me despedir de ti, mas eu não a levei muito a sério. Se tu encontrares ela por aí, pede perdão pela minha insolência, por não ter acreditado nela, que já tinha experiência nisso.
Eu to com saudade e não sei o que fazer. Não tenho com quem falar, não me sinto à vontade com ninguém. Não agüento mais chorar, não agüento mais lamentar. Eu quero meu porto seguro de volta, eu preciso de um, e como tu não estás disponível, eu passo meus dias procurando outro, mas não dá certo, sempre que eu penso que eu encontrei alguém, fico com medo da pessoa achar que é muita dependência, que eu sou um porre. Eu tenho que aprender a não depender dos outros, porque nem todo mundo tem o coração que tu tinhas, e que por convivência, eu tenho.
Eu só queria te olhar nos olhos, ouvir tua voz que eu nem lembro mais. Ligar-te pra falar sobre o que aconteceu no último episódio de E.R, dormir na tua casa e ouvir o cd do fantasma da ópera.
Na verdade, eu queria te dar parabéns.
Monday, October 22, 2007
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