Wednesday, November 17, 2010

Deus colhe a flor quando ela está mais bonita.
Perdi as contas de quantas vezes ouvi esta frase, sempre em uma situação de perda, e por mais que eu queira acreditar, meu corpo, aliás, meu intelecto, se recusa. Como assim ele colhe quando está mais bonita? Deitada em uma cama de hospital após anos de tortura por medicamentos que na tentativa de curar algo, pioram o resto, pálida, fraca e sofrendo, é quando a flor está mais bonita? Quando uma família inteira foi devastada por inúmeras promessas de cura, sempre derrubadas por ineficácia, vivendo dia após dia rezando para que tudo melhore, sem nenhum resultado, é o mesmo que uma flor em seu estado mais formoso? E aquela pessoa que passou uma década em estado vegetativo, submetendo seus entes queridos a situações horrendas, vendo um corpo sem vida, entretanto com vida, aos poucos definhando? O que pode ter acontecido em 10, 15anos na vida de uma pessoa assim, para que se torne apta à colheita?
Eu gostaria de entender. Eu gostaria de acreditar que não estamos aqui na Terra apenas por um capricho de um ser mais poderoso, que na mesma linha do Jigsaw de Jogos mortais, nos submete a testes de resistência e coragem, para aprendermos a apreciar a vida que nos foi dada, nem que seja em nosso leito de morte. Eu sei que nós só conseguimos aprender e crescer através dos nossos erros, e da consciência de te-los cometido, mas é necessário tanto sofrimento? Porque na minha cabeça, por mais confusa que seja, uma afirmação como a apresentada acima, não consiste com a ideia que muitos pregam de que Deus nos deu o planeta Terra e nós humanos o destruimos com a ganância e o egocentrismo, porque logo, se Deus tem o poder de nos levar daqui quando estamos mais bonitos, ele também tem o poder de interferir nas atrocidades que acontecem no mundo em que vivemos, impedindo que milhares de pessoas todos dias se viciem em crack, que crianças sejam estupradas, muitas vezes pelos próprios pais, que moradores de rua sejam espancados à morte por alguém com um senso de humor muito sinistro.
Conflito, é isto que acontece na minha cabeça, é isto que é pregado diariamente por padres, rabinos e outros instrumentos da palavra de Deus, Alá, Oxum e sei lá mais quem. Somos bombardeados com a idéia que temos total controle da vida, que Ele, lá em cima, não pode interferir no curso de nossas vidas, mas é só algo horrível acontecer, um falecimento, uma doença, para ouvirmos que Ele só nos dá o que podemos aguentar. E não é que eu não acredite em Deus, porque eu acredito, eu fui criada na religião católica, eu tenho fé em uma força maior, que me dá forças quando eu preciso, mas no fundo eu sei que 90% dessa fé é apenas meu cérebro tentando de alguma forma me fazer acreditar que sou capaz de algo, porque a grama do vizinho é sempre mais verde, e é mais fácil aceitar que alguém acredita na gente, ao invés de acreditarmos em nós mesmos.
E mesmo sabendo que a minha fé pode totalmente ser explicada pela ciência, eu rezo, antes de dormir, quando estou com medo, preocupada. Eu rezo para que o dia de amanhã seja melhor, que minha família e amigos fiquem a salvo, eu rezo pela minha felicidade. E na maior parte do tempo é o bastante, eu não preciso ficar analisando meus “atos de fé”, mas é só alguém adoecer ou morrer, que as duvidas, e a confusão, tomam conta, e quando eu escuto aqueles clichês próprios para estas ocasiões, por um momento, às vezes longo, eu paro de rezar, eu perco a vontade de acreditar em algo que não pode ser medido e que não tem provas físicas de sua existência. E quando me dizem que tudo passa, que com o tempo as coisas melhoram, eu consigo dormir mais segura, não porque a dor e a saudade foram embora, porque elas não vão - na verdade, com o tempo, elas pioram – mas porque eu sei que em algum momento eu vou voltar a rezar, e assim, continuar esse circulo vicioso e conflitante de fé.

No comments: